Opinião

Para quê?

Fabiana Sparremberger

Relutei, mais de uma vez, a escrever sobre este tema. Por diversos motivos, não queria falar agora sobre o caso Bernardo. Entre eles, o de não provocar ainda mais dor nas
pessoas, mães e pais tão machucados com o absurdo desse assassinato. Mas a gravidade do assunto é maior do que qualquer vontade pessoal.

Não vamos falar aqui sobre o fato em si, e, sim, sobre uma crueldade que acontece todos os dias. Dentro de tantas casas, de chão batido ou ostentando riqueza em todos os cantos, há muitos Bernardos... Talvez filhos de pais e mães que, agora, alardeiam aos quatro ventos o quanto estão chocados, alarmados, impressionados com o que aconteceu com o menino...

Faça um exercício e tente responder:
- Quantos bebês você conhece que são delegados, diuturnamente, aos cuidados de babás. Que choram quando elas vão embora porque não reconhecem os pais como tais?
- Quantas crianças você conhece que nunca têm a presença dos pais e mães durante, por exemplo, datas importantes da escola? Que sequer sabem o que eles aprendem na escola? Que desconhecem o nome do professor?
- Quantos crianças ou pré-adolescentes são sempre “abandonados” nas festinhas de aniversário ou largados na casa de coleguinhas por pais que sequer estão interessados em saber o que eles estão fazendo?
- Quantas crianças você encontra indo sozinhas para a escola com 5, 6 anos, atravessando avenidas de trânsito intenso sem ninguém a olhar por elas?
- Quantos casais você conhece que usam seus filhos para se vingar do ex após a separação? Que impedem que a criança veja o pai ou que fazem “campanha” denegrindo a imagem do outro?

Não sei se senti mais dor pelo Bernardo ter sido vítima de tamanha monstruosidade ou se me sensibilizaram mais os detalhes que vieram à tona revelando o quanto ele vivia em meio a tanto desamor, a tanta falta de atenção, afeto e proteção...

Casos de pais, mães e madrastas assassinando filhos de forma tão absurda são raros, e, por isso, ganham tamanha repercussão. Mas quem se choca, se revolta e se indigna diante de algo que vê com tanta frequência, todos os dias, como pais que transformam seus filhos em órfãos?

Quem se choca quando ouve um pai ou mãe dizendo que passam só uma vez por semana em casa ou só vai para casa para dormir, por causa do trabalho, e que, por isso, não tem contato com os filhos?

Quem se revolta ao ver pais e mães que, fisicamente, até estão com os filhos, mas sempre fazendo outras coisas como trabalhando no computador, estudando, atendendo clientes no telefone...

Se continuarmos nos perguntando apenas “por quê?” aconteceu isso com o Bernardo, não encontraremos respostas. Experimentemos questionar-nos: “Para quê?”. Talvez as respostas e ações que surgirem a partir disso farão com que essa morte estúpida não tenha sido em vão.

Fabiana Sparremberger é colunista do Em Nome do Filho

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Nutricionista diz que comer chocolate pode. Exagerar, não

Próximo

Caso Bernardo acende o alerta sobre a importância de olharmos para nossas famílias

Geral